Thursday, November 23, 2006


"Saudoso" Bublé


Eu gosto muito de um cantor canadense chamado Michael Bublé.Ele faz releituras de canções da era do swing, dentre elas, alguns clássicos do Sinatra, com aqueles familiares naipes e arranjos de metais, tão marcantes quanto os do inesquecível “Mister blue eyes”.Musica pra mim é espelho do que se sente e também um passeio pelas fantasias, por histórias, épocas, e é aí que faço o link da época com as canções do Bublé; Ele é um artista da nova geração por assim dizer, e rema contra a maré – Porque?- Porque o cara faz um tipo de musica clássico, antigo e vende discos e faz um grande sucesso principalmente na Europa.Milhões de ouvintes da boa musica de Bublé, voando nas melodias de sua bela voz, lembrando de uma época em que o mundo era mais humano e mais lento, beleza da juventude para os velhos e para caras como eu que nasceram nos anos 80, aquela coisa de imaginar: “Pó, queria ter vivido naquela época, só pra ver... deveria ser legal andar pelas ruas e calçadão de Copacabana à noite, madrugada, sem medo de levar um tiro na cara...”.
Talvez o amor era visto como de fato ele é, as modinhas no rádio, a fase áurea de Hollywood encantando nós aqui em salas de projeção das capitais, Jobim, e sempre e para muitos, popular bossa nova enchendo os corações juvenis de poesia, sutileza, como algo surreal...Fervilhavam as redações dos jornais e folhetins, e as máquinas de escrever dos poetas, e os corações partidos ao fim de um amor de carnaval, num baile mascarados mais por charme, esconde-esconde macio a embalar o nascimento de intensas paixões. Transeuntes desapressados a dialogar coisas do dia a dia, com vocabulário desprovido de gírias chulas, ou qualquer tipo de artefato constrangedor –Pudor!- Sim, mais pudor, mais receios, mais olhares paternos a desaprovar as gafes das crianças diante das visitas na sala de estar, mais noites lindas cobertas de estrelas...
Não, não é saudosismo, ao menos acho que não, até porque não vivi essa época, os anos dourados, os anos “preto-e-branco” cheios de cor que se desbotaram ao passar das ditaduras e seus mentores. Turbilhão, velocidade, o mundo dividido, socialistas e capitalistas, muita informação, alta tecnologia, aberrações em profusão, competição é o lema, não confie em ninguém, não saia à noite, rock and roll mal criado, desbocado e barulhento...Turbilhão gente, e só resta aquela imaginação do que um dia foram as culturas de massa, ditando comportamentos, alimentando sonhos e amores pra vida toda,
Acho que por isso Jobim sempre me emocionou, e hoje ouço com calma e deleite as canções do Bublé, porque musica é espelho, e alguns belos vãos da minha pobre alma se olham nessas canções e sorriem com leveza...Há dois dias atrás via o telejornal com minha mãe e ao noticiarem o falecimento de Robert Altman ela me fala: “- Parece que as pessoas geniais estão morrendo e só restando porcaria no mundo, só gente vazia...”. Quase concordei com ela, porque o que ela disse é uma verdade parcial, mas repliquei; “Ah, não é tão assim também, sempre surgem pessoas geniais, pessoas grandes, com alma nesse mundo, é um ciclo que se renova...” O mundo perdeu o inesquecível Sinatra e anos mais tarde ganhou o jovem e talentoso Bublé !”... um ciclo que se renova”.