Saturday, November 25, 2006


Cerca de um mês atrás minha mãe foi até Curitiba e de lá me trouxe um presente: Meu primeiro caderno de poemas e versos! Há anos “perdido”, meu primo o guardou, pois sabia que eu ficaria feliz ao rever o caderno, cheio de imaginação juvenil, versos soltos, livres, que tomavam boa parte do meu tempo naquelas tardes, ora na minha casa, ora na casa de minha saudosa vózinha.
Folhando o caderno, é como se não fosse eu que tivesse escrito tudo que li, eu era tão diferente há alguns anos atrás, as palavras me vinham mais facilmente, eu lia muita poesia também, tinha matéria-prima para compor versos compulsivamente, e talvez fosse mais complacente com o mundo ao meu redor...(Ohhh, essa foi forte né? Hehehehehe)
Bom, escolhi para por aqui um dos primeiros, um sonetinho.Meu senso devéras crítico quase “refez” os versinhos, mas seria injusto fazer isso com o Davi adolescente, né mesmo? :)




Soneto do calar

E como todas as vezes que calo-me
Imagino a contemplação d’um lugar
Cercado de serras todas geladas
Cada qual com sua glória demarcada

Esse coeso e harmônico lugar
Amado e mantido no âmbito mais sagrado de mim
Pra sempre que ela não me sorrir
E você não quiser mais me dar a mão

Eu possa pra tal lugar fugir
Sem documento nem coragem
Acuado feito um animal alado

Que se esconde durante o dia inteiro
Arredio todo encolhido e ferido sem voar
Interpretável feito o nosso cordial esquecimento


19 / 7 / 99

Thursday, November 23, 2006


"Saudoso" Bublé


Eu gosto muito de um cantor canadense chamado Michael Bublé.Ele faz releituras de canções da era do swing, dentre elas, alguns clássicos do Sinatra, com aqueles familiares naipes e arranjos de metais, tão marcantes quanto os do inesquecível “Mister blue eyes”.Musica pra mim é espelho do que se sente e também um passeio pelas fantasias, por histórias, épocas, e é aí que faço o link da época com as canções do Bublé; Ele é um artista da nova geração por assim dizer, e rema contra a maré – Porque?- Porque o cara faz um tipo de musica clássico, antigo e vende discos e faz um grande sucesso principalmente na Europa.Milhões de ouvintes da boa musica de Bublé, voando nas melodias de sua bela voz, lembrando de uma época em que o mundo era mais humano e mais lento, beleza da juventude para os velhos e para caras como eu que nasceram nos anos 80, aquela coisa de imaginar: “Pó, queria ter vivido naquela época, só pra ver... deveria ser legal andar pelas ruas e calçadão de Copacabana à noite, madrugada, sem medo de levar um tiro na cara...”.
Talvez o amor era visto como de fato ele é, as modinhas no rádio, a fase áurea de Hollywood encantando nós aqui em salas de projeção das capitais, Jobim, e sempre e para muitos, popular bossa nova enchendo os corações juvenis de poesia, sutileza, como algo surreal...Fervilhavam as redações dos jornais e folhetins, e as máquinas de escrever dos poetas, e os corações partidos ao fim de um amor de carnaval, num baile mascarados mais por charme, esconde-esconde macio a embalar o nascimento de intensas paixões. Transeuntes desapressados a dialogar coisas do dia a dia, com vocabulário desprovido de gírias chulas, ou qualquer tipo de artefato constrangedor –Pudor!- Sim, mais pudor, mais receios, mais olhares paternos a desaprovar as gafes das crianças diante das visitas na sala de estar, mais noites lindas cobertas de estrelas...
Não, não é saudosismo, ao menos acho que não, até porque não vivi essa época, os anos dourados, os anos “preto-e-branco” cheios de cor que se desbotaram ao passar das ditaduras e seus mentores. Turbilhão, velocidade, o mundo dividido, socialistas e capitalistas, muita informação, alta tecnologia, aberrações em profusão, competição é o lema, não confie em ninguém, não saia à noite, rock and roll mal criado, desbocado e barulhento...Turbilhão gente, e só resta aquela imaginação do que um dia foram as culturas de massa, ditando comportamentos, alimentando sonhos e amores pra vida toda,
Acho que por isso Jobim sempre me emocionou, e hoje ouço com calma e deleite as canções do Bublé, porque musica é espelho, e alguns belos vãos da minha pobre alma se olham nessas canções e sorriem com leveza...Há dois dias atrás via o telejornal com minha mãe e ao noticiarem o falecimento de Robert Altman ela me fala: “- Parece que as pessoas geniais estão morrendo e só restando porcaria no mundo, só gente vazia...”. Quase concordei com ela, porque o que ela disse é uma verdade parcial, mas repliquei; “Ah, não é tão assim também, sempre surgem pessoas geniais, pessoas grandes, com alma nesse mundo, é um ciclo que se renova...” O mundo perdeu o inesquecível Sinatra e anos mais tarde ganhou o jovem e talentoso Bublé !”... um ciclo que se renova”.

Monday, November 20, 2006

QUEDA


Das histórias mais absurdas
A nossa é a mais linda delas
Como um dependente sinto sua falta
Tal vício me consome e me torna doce
E gostas, sentes prazer
E todas as vezes que estalou os dedos
E vim aos seus pés como um cão
Ou numa gaiola me manteve preso
Para que cantasse as melodias que gostas
Me bateu sem eu nada ter feito
Me manteve sob seus pés como algo que se enterra
Me chamou de seu zero maior, o dispensável
Aquele que não se precisa conquistar porque sempre está á espera
Como estepe de carro, um reserva, algo comum e barato
A incapacidade de mostrar valor
Porque impossível seria reconhecimento de sua parte
Como um tolo, sempre a postos para te satisfazer
Comprar suas brigas
Pagar suas contas
Suturar seus cortes abertos, suas feridas expostas
Por vezes caído no chão
Seu beijo como um tiro de misericórdia
Tirando minha vida com a intenção de privar
De um sofrimento inútil
Como distinguir amor de algo que dói
Com você eu perdi os sensos...E fui mais feliz do que jamais poderia imaginar...

Monday, November 13, 2006

Na noite passada aconteceu algo que me deixou contente: Tirei 9.8 na prova de tecnologia industrial...É claro que meu ego inflou, até porque foi a maior entre as notas da sala! E aí você me pergunta: “- O que que eu tenho a ver com isso mane?” hehe...
Tava em frente á tv e depois de ver a entrevista de um publicitário falando sobre os vários tipos de comunicação usados na internet e tv, pensei: “Puta meu, é tanta coisa que a gente não consegue nem assimilar 5%...” (O 5% é hipotético ok? Mas deve girar em torno disso mais ou menos...). O link que faço com o fato da nota da prova é que eu tenho dificuldade em me desligar da net, tv, mp3's e outros entretenimentos “fáceis” para pegar o livro, a apostila, as anotações do caderno, silenciar a cabeça e estudar (“difícil”).
De uma forma geral é complicado ser ouvido, porque todos querem falar ao mesmo tempo, querem atenção, só que essa algaravia constante e intensa confunde as idéias pó; Ou vai me dizer que é agradável ouvir aquele vendedor mala, sensacionalista (auhauahuha) nos empurrando aquelas maquininhas digitais tec pix, ou sei lá o nome, todo santo dia, umas trezentas e noventa vezes...? O mundo quer ser ouvido, e ninguém quer ouvir, ninguém se ouve, ninguém se sente, se entende, tudo rápido e superficial; Rápido porque tempo é dinheiro, superficial porque tudo é comum, e descartável, e reciclável e nada é insubstituível.
Escrevi umas linhas marginais (como de praxe) sobre a questão.





Muitos a falar e poucos a ouvir


Muitos a falar e poucos a ouvir, justamente porque muitos querem ser ouvidos e de que maneira ser ouvido, notado ou sentido? Quantas noites a se viver para se conseguir ser o que se sonha ser, sendo que ao mesmo que o desejo de sair do que se é aumenta, o desejo de falar, ser ouvido também aumenta, e não se sobra tempo para ouvir ninguém. Qual a medida de uma realização, e quanto isso custa a chegar? Ouro sentir-se vivo, uma mão que se estende, alguém que te ama de verdade, um inconformismo que nasce a partir do momento que se percebe que tudo está fora do lugar. È isso, meu caro, muitos a falar e poucos a ouvir, como multidões e rebanhos, como um exército de estranhos rostos conduzidos por laços, e freios: O que você pensa não importa mais que meu discurso ao pé do seu ouvido, pois é seu mundo que está em jogo, então se aceitas o meu jogo não percebe que entrega sua vontade a outro, ou outra, a mim que sou quem for e a um côro de mais milhares te digo como ser, para que eu aceite sua presença, siga o que eu digo. Escolha, pois muitos a falar e poucos a ouvir é o hoje e limita, ou pensar, sentir é algo feito de plástico? Muitos a falar e poucos a ouvir é confusão e nada se extrai, como em estado letárgico, aonde tudo é como é, e por isso tanto faz e tanto fez, sem memória e sem postura, inerte e sem figura, mando e obediência, dedos em riste, ordens e apatia: Ai ai meus ais, quero me sentir vivo, como quem canta e quem chora e quem sente dor e prazer e faz. Bom, se não se desperta, faz de conta que a dor e o prazer estão guardados a outros que não você, e escolha não escolher. Eu te peço, quando o mundo inteiro falar, e não se entender nada no meio da confusão de vozes e sons, posicione o indicador verticalmente em frente seus lábios e peça silêncio, silêncio, silêncio, silêncio, silêncio...Até que nesse silêncio reflita sua imagem como um espelho: Pois muitos a falar e poucos a ouvir não se importa com o que é sentir, e nem ser...

Monday, November 06, 2006

Honradez na obra

7:30 da manhã o primeiro entra no terreno, e dá bom dia ao canteiro de obras: “- Bom dia entulhos, prontos para hoje?”. Em poucos instantes de um a um vão chegando os trabalhadores, bocejantes, com a cara meio amassada, mas já preparados para boas horas de esforço físico que a demolição das antigas salas demanda. Com todos já presentes, o mestre de obras, encarregado pelo pessoal inicia um discurso, de tom já bem conhecido pelos pedreiros: “– Meus caros amigos, é preciso absorver a importância, e a essência do que fazemos aqui dia a dia, pois não é o simples bater de marretas, e abrir de buracos cada vez maiores nas paredes que nos é o todo desse ofício. É preciso compreender que a força que destrói, se faz nobre e cheia de significado, estamos destruindo para reconstruir cada vez melhor, e isso para mim é especial! A cada movimento, a cada gota de suor derramada, e os calos nascentes nas palmas ao final do dia são honra, são símbolos de força, a força da reconstrução, do recomeço, que se dá pela força de nossos braços... Por isso peço-lhes dedicação, concentração e a certeza de que fazem algo cheio de significado nobre aos meus olhos e aos olhos da vizinhança, que mesmo incomodada com o barulho de nossos martelos, respeitam-nos pelo esforço de nosso dia a dia...” “– Muito Obrigado e bom trabalho a todos nós”
Os trabalhadores sem muito entender, e até impacientes para que o sermão findasse para que começassem mais um dia debaixo do sol, aplaudiram com uma pontinha de ar negligente nos rostos.
A obra tinha uma casa ao lado esquerdo, como vizinhos, e a família de 6 pessoas já não agüentava mais aquele barulho diário, de marretas violentas contra as paredes, martelos e serras amassando e cortando pedaços das salas que eram derrubadas; O irmão mais novo reclama para o irmão do meio enquanto tenta ler um quadrinho de manga do último mês: “- Porra véi, Sá obra dus caráio me estressa viu, os caras fazem um barulho doido desde de manhã cedo, uns filho da puta perturbando a cabeça da vizinhança, q merda viu, vontade de sumir ou jogar uma bomba de vez lá pra derrubar aquela bosta toda de uma vez, caráio sá merda meu...” O irmão ouvinte se diverte ás gargalhadas com a cólera juvenil do irmão e diz: “– Hahahahaha...C é doido seu nóia... hehehe”.
Passados uns 20 minutos dos reclames do jovem, entra o pai da família eufórico pelas portas...:”- Concluímos o prédio, depois de meses de reclamações dos vizinhos, processos movidos contra nós, mesmo assim concluímos... como corredores que chegam ao final de uma maratona, com garra, dedicação, e honra...”.

Sunday, November 05, 2006

Ontem á noite vi no telejornal o resgate de cem cavalos em uma cidade holandesa, e aquilo me chamou demais a atenção! Primeiramente pela beleza, e sensação de alegria em ver os animais salvos das águas que os cercavam, mesmo que dezoito deles não tenham resistido aos três dias em que ficaram ilhados, e a segunda razão seria pelo fato de que raramente vemos algo veramente belo, principalmente em telejornais...Tal qual a uma 'neverending story" de horror, dia a dia o mundo assiste o Bush, A guerra no Iraque, aquele psycho que governa a Coréia do Norte, e aqui no Brasil os mensalões da vida, as acusações, as loucuras violentas figuradas em sequestros, tiros, e uma leva de crimes. Confesso que me sinto um idiota em frente a TV vendo dia após dia esse show de loucuras, ao redor do mundo e aqui, mas poxa, ontem foi diferente: Ver os pobres animais sendo conduzidos pelas águas já rasas, perfilados, me remeteu a belos pensamentos, como um western com final feliz, a singeleza dos animais, que mesmo com apenas instinto natural conseguem ser mais nobres do que nós - Miseráveis de nós seu Bush, seu Kim Jong...
A leveza de 'Pancho & Lefty" de Willie Nelson, ou mesmo 'Harvest Moon" de Neil Young me vieram como uma trilha sonora para a imagem dos cem animais salvos. Três dias ilhados, sem certeza de salvação, até que as águas baixaram com a estiagem das chuvas e o resgate chegou, e isso me abriu um sorriso ao matutar sobre a bela cena. Eu espero que nós cavalos tenhamos a mesma sorte daqueles da Holanda, ao final dessa tempestade que alaga nossas vidas de medo, ou ter á frente um presidente como o nosso não te assusta?
Bom, é isso. Vida longa aos cavalos da Holanda...