Thursday, June 28, 2007


Quadris

Quadris estreitos, quadris largos, abrem o apetite, dançam em curvas e parábolas sem disciplina, incontinentes a revovler uma culpa pecaminosa ou tenras rendições ás paixões mais furiosas. Se perdem num horizonte de tesouros, dramas e aroma de terra molhada; Telúrico delírio, incoontinente fascínio, enrijecendo a pele e relaxando os músculos, brindando um breve momento de eternidade. Quadris que desdenham e cogitam, cheios de razões e sentidos, se excitam sob a luz da lua, sobre lençóis macios; Tão próximos das pernas para andar, do ventre para gerar, se calam na solidão de um corpo só, esperam que sopros de inspiração lhes tragam outros mais, nus e livres, que igualmente seguem num suplício sedento, brincando com os sentidos e os olhares atentos, simplesmente vivos. Quadris estreitos, quadris largos, como braços de rios inesgotáveis, em busca de uma foz, em busca de mais; Ora estranhos, recônditos segredos mantidos em silêncio para que no tempo certo sejam revelados, satisfazendo-se em doces loucuras, sem o menor pudor de nada. Ora apenas sendo o que se é, comuns; Podem tudo e quem é que dirá algo contra? Não se diz nada contra o que se ama. Despidos de toda regra, podendo ser o que quiserem ser, sincero prazer ou intocável paraíso, amados em curvas e parábolas, seguem para sempre mais, e graças a eles por isso...

Sunday, June 17, 2007



PARIS HILTON SYNDROME


Priscila era uma adolescente normal, caçula da casa, querida pelo irmão mais velho e orgulho dos pais pelo seu jeito educado, prestativo e as boas notas no colégio. Os cabelos longos e olhos levemente verdes eram apenas detalhes que tornavam a menina mais querida pelos professores e amigos. Era exemplar aluna, disciplinada nos estudos e super articulada e precisa em seu linguajar. Quando participava de um grupo para apresentar um trabalho diante dos colegas de classe, era sempre escolhida como líder e oradora; Ninguém combinava tão bem carisma, conteúdo, postura e aplicação quanto Priscila. Realmente era um primor de menininha, que se diferenciava das demais justamente por cultivar virtudes que a faziam ser respeitada pelas pessoas mais velhas; procurava sempre estar lendo algum livro, via o telejornal na tv para ao menos compreender um pouco a lástima de país em que vive e o mundo louco que parece tremer de febre...A menina até tinha argumentos plausíveis para dialogar sobre aquecimento global e corrupção no planalto central.
Mas nem tudo são flores e ás vezes o leite azeda; O que tinha tudo para ser uma jovem de méritos e naturalmente uma grande mulher, subitamente mudou seu comportamento, postura, prioridades, circulo de amigos e então se iniciaram os atritos em casa:
- Oi mamyyyy, cheguei!
- Olá querida, chegou mais cedo da aula? O que houve?
- Ah, não tava com saco pra aturar aquela aula “down” de matemática, afff mamy, ninguém merece aquilo...
- Mas você sempre gostou de matemática, sempre teve notas boas e falava super bem da professora, elogiava a didática dela e tudo mais.
- Pois é mamy, isso era a muuuito tempo atrás, hoje eu não tenho saco, a aula dela é pura gastação de paciência!!!
- Hum, não sabia que tinha mudado de opinião a respeito da matéria, meu amor, mas tudo bem. Vá tomar um banho e vem almoçar, já está pronto!
- Ok mamys fofys, hihihih. T doru.

Priscila no caminho para o quarto faz uma parada no sofá, em frente á tv e ali ficou, esquecendo até da fome, até sua mãe a abordar:

- Meu amor, ainda está aí? Você sempre chega com fome da aula...!
- Ah mamy, é que eu amo esse canal e essa cantora!
- Hum, que canal é esse?
- Emitivi mamy, e essa cantora super 10 é a Britney Spears, ela arrasa mamy! Olha que demais essa blusa dela, e o jeito que ela dança; os caras simplesmente babam por ela, e ela arrasa demais mamy!

A mãe de Priscila sem entender a mudança de gostos drástica da filha, apenas sorri, enquanto se pergunta o que houve.
Os dias vão passando e a menina mudava cada vez mais, mudou o cabelo pra um loiro ofuscante, comprou blusinhas em tons pink, barriguinha de fora, anéis e pulseiras botinhas e sapatos de vinil; Parecia uma tentativa de se aproximar com o visual das cantoras que ela tanto dizia adorar, mas antes fossem só as roupas; O jeito de falar, carregado agora de gírias e expressões da moda usadas em profusão nas rodinhas de adolescentes voadores, imbecis apresentadores da Emitivi e congêneres.:
- Mãe, a Marcinha comprou uma bolsa irada!!! Estilo aquelas que a Paris Hilton usa, e também aquela modelo maravilhosa que veio aqui no Fashion week, e arrasou!A Marcinha arrasa mãe! Ela tem popularidade, as meninas têm ela como referência de bom gosto e descolamento!
- Descolamento meu amor? Descolamento de neurônios? Rs...
- Hihihihihi, não mamyyyyyy. Descolamento no jeito de ser, tem que ver o gatinho que ela ta pegando agora! Lindo, parece aquele gatinho que entrou agora na malhação...
- Hum, entendi meu anjo.
- A Marcinha nem estuda direito mãe; tem professor que dá nora pra ela de graça, acham ela linda, babam. Tem até um deles que vive cantando ela pra sair com ele, ela tem o cara nas mãos mamyyyyyyy!!!
- Sério filha? Que surpresa! Você sempre criticou esse tipo de menina, achava fútil esse tipo de atitude...
- Ah mamy, eu era uma “nerd”, desligada, “outside”, mas agora percebi que a vida é pra se curtir e curtir muitoooo!
- Quer dizer que antes você não aproveitava sua vida filha? Pensa de fato assim?
- Ah mamy, até aproveitava, mas eu lia muito, sei lá. Era toda séria, e eu não acho mais graça ser assim. Eu sou super bonita, as pessoas vão me adorar de qualquer jeito. Eu até estou ficando popular, graças á amizade com a Marcinha! O grupo dela é super 10 mamyyyy!
- Bom meu amor, pode até ser, mas o que me preocupa é que suas últimas notas caíram bastante, você tirou duas notas vermelhas e as azuis caíram muito em relação ás do último mês...Eu conversei isso com seu pai e ele também ficou muito surpreso! Também te notou mais distante, você não estuda mais de tarde, prefere hoje ir pro shopping, ficar de conversa com suas amigas.
- Ah mamy, desculpa. Eu ando meio relaxada mesmo, mas prometo que vou recuperar essas notas baixas.
- Assim eu espero mocinha, assim eu sinceramente espero, senão vou ser obrigada a mudar minha atitude com você e a forma como sempre te vi até hoje...Entendida?
- Isso é uma ameaça mamyyy???
- Não, um conselho de amiga, por que como sua mãe e amiga, estou preocupada com essa “nova” Priscila! Parece outra pessoa, se tornou aquilo que sempre criticou; Elogia e acha legais coisas que nunca gostou, ou nunca deu tanto valor assim. Eu prefiro a Priscila antiga.

A menina soluçante abaixa a cabeça e diz:

- Mamy, mas eu sou mais feliz assim desse jeito, me sinto querida pelos outros e parte de um grupo, uma sociedade, um mundo, entende?
- Existem vários mundos querida. Não precisa fazer o que todas fazem, ou o que você vê na televisão, para se sentir querida pelos colegas da sua idade...Você sempre foi respeitada, inclusive por seus professores; A professora de história sempre te elogiava pra mim, quando me via em algum lugar!
- Ah, que legal mamy! A profy Elisabeth é 10 sim! Rs
- De fato muito cordial e simpática.
- Mamys, foi TDB trocar essa idéia contigo, mas tenho que ir agora; marquei com as meninas no shopping de tarde, os meninos vão também hoje; Tem um gatinho mãe que nem te contooooo.... Serginho play, TDB!
- “Serginho play?” Que nomezinho hein! E aquele menino que te adorava, filho da professora Augusta...? Qual era o nome dele mesmo?
- Luis Henrique mamy, mas eu já até esqueci dele viu, ele é muito certinho, gostava de falar de filmes, artes, essas coisas chatas, afff...Rs
- Nossa mocinha, estás mudada mesmo hein! Você achava ele educado, gentil, agora diz que nunca mais falou com o rapaz?
- É mamy, ele se tornou chato demais!
- Tem certeza de que foi ele quem mudou?
- Tenho mamy, absoluta. Agora deixa eu ir senão me atraso muito.
- Ta certo meu amor, mas não volta de noite como da última vez não, ok? Seu pai ficou louco de preocupação contigo!
- Ok mamyyyyy...Rs

A menina dá um beijo no rosto da mãe e sai apressada rumo ao shopping.

Nesse dia, Priscila chegou nove horas da noite, provocando assim uma grande discussão entre ela e os pais. O tom foi ofensivo, com acusações de ambas as partes. O pai instituiu um castigo por tempo indeterminado e restringiu a menina de uma série de privilégios, como semanada generosa em dinheiro vivo e leva-e- trás das baladas.
No dia seguinte os pais marcam um encontro e conversam sobre o que fazer com a menina; Decidem então levá-la a um psicólogo, especializado em juvenis, adolescentes-problema. Ligam e marcam a consulta para dali a dois dias. Quando a menina chegou, supostamente da aula, no meio da tarde, a mãe a comunica de que terá uma consulta, lhe diz o dia e hora e faz a pergunta:

- Estamos entendidas?
- Com certeza mamy, com certeza... (Ironicamente)

Chega então o dia marcado, e a mãe nitidamente apreensiva espera no carro a filha terminar de se vestir, e quando esta chega, a mãe indignada ordena:

- Vá agora trocar essa roupa. Aonde pensa que vai?
- Oras, vou ao médico mamy.
- Desse jeito parece essas mulheres perdidas que ficam pelas ruas fazendo ponto. Vá agora trocar essa saia, tirar esses anéis, tirar esse brilho doa lábios, se vestir como uma menina decente de família. Agora.

A menina maldizendo a vida e a atitude conservadora da mãe, sobe e se troca, e então partem rumo ao consultório médico.
Lá chegando, o médico conversa primeiro em separado com a mãe e depois chama Priscila para umas perguntas e um bate-papo. Após umas duas horas no consultório médico, o doutor chama a mãe em particular e dá o diagnóstico fatídico:
- Lamento-lhe informar, mas sua filha apresenta um quadro típico de P.H.S !
- P.H.S? Mas o que é isso doutor? (assustada)
- È uma Síndrome, minha senhora. “Paris Hilton syndrome”.
- Paris Hilton syndrome? Mas como assim doutor?
- Isso mesmo! Síndrome Paris Hilton.
- Mas o que é isso doutor? Acho que já ouvi esse nome, em algum lugar; A Priscila volta e meia falava esse nome...O que é? Uma banda, uma cantora?
- Antes fosse, seria menos destrutiva, eu acho. Paris Hilton é uma menina rica e muito conhecida, que é idolatrada por milhões de meninas ao redor do mundo que sonham ser como ela, o que é uma lástima na minha humilde opinião. Essa influência é amplificada pelo foco que a imprensa mundial dá a essa pessoa...Isso só alimenta os sintomas da síndrome nos jovens de todo mundo.
- Mas o que quer dizer essa síndrome? Quais são os sintomas doutor?
- Bom, a síndrome acomete em geral jovens, de ambos os sexos, mas há um número enorme de adultos que igualmente apresentam as características da síndrome, o que é mais delicado por se tratarem de adultos e terem desenvolvido mecanismos naturais de defesa ante a enfermidade. As pessoas acometidas apresentam sintomas similares aos da “personalidade” que dá nome á síndrome: Basicamente são fúteis, inúteis e alienadas, criam um mundo pseudo-glamuroso, usam sua popularidade para alimentar o ego miserável ao invés de divulgar boas idéias e causas, se esforçam para serem adorados por sua “beleza”, bens e objetos que são desejos de consumo do momento, não se informam, são ignorantes, egoístas, frágeis (emocionalmente), e buscam se sentirem menos patéticas através da futilidade e consumismo compulsivo, na maioria dos casos têm acessos de irritação, bebem para justificar atos extravagantes, vivem cercados de pessoas que de alguma forma batem palmas para a superficialidade e priorizam a imagem acima da própria alma. Não posso me esquecer que no caso dos pacientes do sexo feminino, o seu jeito de andar é afetado também!
- Como assim doutor? O jeito de andar?
- Sim, elas acham que estão em uma passarela, idolatram essas modelos de passarela, em geral, e procuram andar da mesma forma que as mesmas, sem se dar conta do ridículo. Fazem caras e bocas sem a menor naturalidade e se julgam capazes de dominar qualquer pessoa do sexo masculino, através da sedução barata: A comunidade cientifica chama isso de “Cow sensuality!”.
- “Cow sensuality?”.
- Sim, sensualidade de vaca, no português mais claro que albino nu no pólo norte...Hohoho...Desculpe-me, foi apenas uma brincadeirinha. (Se desculpa o médico, sem graça pela ironia).

A mãe com cara de temor, sem saber o que fazer para livrar a filha da síndrome, pergunta:

- Doutor, eu e meu esposo estamos dispostos a tratar nossa filha da melhor maneira, para que ela possa se curar. A quais tratamentos podemos recorrer? Há algo que possamos fazer para que ela volte a ser a menina de antes? Ela está insuportável doutor, nos ajude, por favor...
- Minha senhora, lamento, mas não há tratamento com medicação para esse caso. A solução imediata seria mudar de planeta, ou viver no meio do mato, longe dos grandes centros e de qualquer tipo de mídia: Ou seja, improvável... O que se tem a fazer no caso dos jovens é deixar o tempo passar, ser amigo deles e sutilmente conversar, se interessar pelo que eles pensam: Alguns despertam e assumem uma personalidade própria, com base naquilo que aprenderam de valor com os pais e com a sociedade, na escola. Outros se perdem e nunca conseguem se livrar dos sintomas, assumindo de vez as características da síndrome; São nesses casos que temos os adultos com P.H.S. No caso deles, só se verão livres da síndrome quando morrerem...Infelizmente
- Entendi doutor.
- Pelo que me contou de sua filha, ela tem grandes chances de se livrar da síndrome, pois há bem pouco tempo atrás era uma jovem sã, não é mesmo?
- Sim doutor, era sim.
- Então, deixe o tempo passar, ela vai amadurecer, crescer, seja amiga sempre, e mais cedo ou mais tarde ela vai voltar ao que era antes, completamente curada, e quando se lembrar dessa época de P.H.S, vai dar risada de si mesma! Pode apostar. (O médico sorri).
- Obrigada doutor. Se Deus quiser, minha filha vai se curar.
- Qualquer dúvida a senhora pode ligar e falar diretamente comigo, tudo bem?
- Sim doutor, eu ligo sim. Muito obrigada
- Passar bem, bom dia
- Bom dia pro senhor. Tchau.

A mãe saí da sala e sorri para Priscila:

- Vamos meu amor? Ainda tenho que passar no banco antes de irmos para casa...
- E o que o doutor falou de mim?
- Você não tem nada meu anjo, são coisas da idade, simplesmente coisas da idade.
- Te amo muito sabia?
- Também te amo meu anjo, mas por favor, evite me chamar de “mamy”, será que consegue?
- Claro que consigo mãe...


Monday, June 11, 2007


SÓ FALTAVA VOCÊ
Só faltava você, e desde que não te vi mais por perto, tinha plena certeza de que mais cedo ou mais tarde chegaria. Poderia durar dias, meses ou mesmo anos, mas a cidade, as ruas, as cores que vemos, a casa, esperavam sentir novamente a sua presença para que pudessem reencontrar uma razão de ser. Quando chegar, vai notar que suas coisas estão organizadas, assim como as deixou naquele último dia; As posições dos objetos absolutamente iguais, com sua cara e sua preferência. A casa jamais seria a mesma sem seu olhar minucioso, detalhista a perceber formas e jeitos de organizar, tornar o ambiente mais aconchegante. Na mesa de jantar, seu lugar nunca foi ocupado, vai encontrar um prato e os talheres com cabo de madeira envelhecida, assim como a taça que comprou em uma de nossas andanças e visitas a pedaços desconhecidos do mapa; A taça que brindava noites tão perfeitas, sorrisos tão tranqüilos que me faziam sentir um bem e em trégua com o mundo. As datas, o natal, só são se você estiver; A guirlanda na porta, vários tipo de noéis espalhados pela sala, a árvore colorida a piscar, me descansando os olhos, a certeza inabalável de que o ano que chegava seria melhor que o ano que passava, seria vitorioso! As pessoas que conhecemos perguntam por você, curiosos, surpresos, com cara de espanto sem entender o por que da demora, o por que de uma ausência tão silente e fria.
Não se troca um lugar seguro pelo mundo mau! Nada terás de verdade, nem um punhado de fantasia. O que há de ser melhor do que receber o abraço daqueles que te amam, confiar, sorrir sem medo, um navio ancorado em um porto seguro e em descanso, sabores e fragrâncias delicados, estradas que se perdem no horizonte pra se guardar no olhar, o sabor celestial de sentir o que é paz e madrugadas amigas, como outrora, como nunca antes...
Só faltava você, faltava esse rosto cheio de vida, esse olhar que me faz acreditar que pra tudo há uma saída e sempre haverá. Tudo aqui te espera, conhecedores de suas virtudes e suas falhas, sua teimosia ao negar o óbvio que se vê e a mesma teimosia ao acreditar no impossível, esperar dias melhores para as pessoas, para o país, no teu universo íntimo...; Desse jeito assim, que ninguém mais tem e terá, os abraços mais tenros pra lhe acariciar os sentidos, água morna na banheira a relaxar teu corpo rendido ao prazer, um ombro aonde chorar nos dias maus, contas e deveres do cotidiano a preocupar de vez em quando, planos, por que sem sua presença não se faz mais planos, e achar que se fariam por si só seria um mero engano, tolo. O tempo caminhando como sempre, as cores que vemos, as confissões mais nuas guardadas a sete chaves, precisam te ver aqui...
Só faltava você pra que essa vida vivesse a si mesma, e será dia claro emoldurando sua chegada; Partida, chegada, um encontro como capricho do acaso, serão pontos que começaram e terminarão quando te disser por fim, frente á frente: “Só faltava você...”.