Wednesday, December 06, 2006


Efeito Tostines do amor


Momentos de tensão conjugal na casa dos Pereira, o casal há duas horas já discutia em alto e bom tom a relação, lavavam a roupa suja, quer dizer, aparentemente imunda de dezessete anos de casamento:

- ...E naquele dia do primeiro jogo do Brasil na copa, hein? Pensa que não vi o jeito que te peguei olhando pra aquele garotão lá no pub, hein? Seu olhar era vergonhosamente lascivo pra uma mulher casada, e com o marido prestes a chegar...
- Chegar? Há há há, Voltar do banheiro você quer dizer né? Tava tão bêbado que me puxou pelo braço pra te acompanhar té a porta: “- Mozão, mozão, vamo comigo té o banheiro...” Eu não tava olhando pra garotão bolhufas nenhuma; Ou eu olhava para o lado do hall ou para a porta daquele banheiro fétido, num entra e sai frenético de bebuns.
- Ué, olhasse pro relógio, como uma esposa preocupada com o retorno do marido do banheiro faria.
- Ahammmmm, que lindo né? Olhando pro relógio, esperando o marido cambaleante sair do banheiro, ahhhhh, faça-me o favor, larga de ser paranóico.Você olha pra 358 bundas na rua quando a gente sai, e cismou que eu tava olhando um garotão, vê se pode uma coisa dessas...?
- Eu olhando pra bunda na rua? Há há há, que calúnia perniciosa essa sua hein? Nunca fui assim...Ando atento ao nosso redor, olhando para os lados, nos cruzamentos, semáforos, zelando pela nossa integridade já que a senhorita anda voando, olhando pra vitrines, e sei lá pra onde; Se duvidar até para os garotões que circulam por aí.
- Você é doente, só pode, nunca vi tanta prepotência, neurose ciumenta, insegurança paranóica pós quarenta, aliás, pós quarenta e pós pança né? Vai, isso mesmo, toma muita cerveja, muito chopp, fica vendo futebol esparramado feito uma gelatina no sofá, que vai ficar cada vez melhor, vendo garotões té no seu prato de cereal de manhã.
- O que é que custa você assumir que tava olhando pro garotão lá no pub naquele dia hein? Assuma e peça desculpas e pronto, té porque eu sei que ele nunca ia olhar pra você do jeito que você olhou pra ele, porque ninguém além de mim quer uma mulher vinte quilos acima do peso, com a bunda caída e celulite pra dar e vender.
- Há há há, agora é minha vez seu pançudo arrogante, cervejeiro.Eu não sei aonde eu tava com a cabeça que aceitei me casar com você, sendo que eu sabia que aquele arzinho presunçoso que eu achava um charme iria inchar como a sua barriga e se tornar essas paranóias ridículas que você tem...Só eu mesmo pra aguentar um homen prepotente, machista, barrigudo, careca e cervejeiro safado
- Opa opa opa, safado não hein, safado nããããoooo, porque nunca ofendi sua honra, nunca!
- Mas minha auto-estima falando que eu to vinte quilos acima do peso e cheia de celulite
- Mas eu amo sua celulite e seus vinte quilos a mais sabia?
- Puff...Haiauha...Palhaço...
- Sério, e você sabe bem disso, principalmente lá no nosso cantinho depois que as crianças vão dormir né? Hein hein hein? Hihihihi...
- “- Hihihihi...” Achei graça nenhuma...Mane...Se bem que careca você não fica tão mal também....rsrs
- Ah, pára vai, assume que eu sou seu tesão, o quarentão mais gato que você já viu vai patinha...qué qué...Hihihihihi
- Rsrs...Fazia tempo que não me chamava de patinha, eu sempre gostei...Seu boboca
- Eu te amo, qué qué qué, te amo qué, qué qué...Jihihihi...
- Rsrsrs...Pára de imitar pato, seu chato, humpf.

Ele sorri aliviado, com os olhos brilhando como a dezessete anos atrás, ergue a cabeça, respira fundo, se aproxima, inclina-se um pouco para frente, até que as bocas se tocam e assim permanecem por quase um minuto. Ele a olha nos olhos com um olhar quase paterno e pergunta:

- Porque a gente briga tanto hein? Será que é pelo fato de que ás vezes sou um mané por ser chato, ou sou chato por ser mané...
- Ai, isso é maior efeito Tostines hein!: “Vende mais porque é fresquinho ou é fresquinho porque vende mais?”, rsrs. E outra, eu não me casei com um mané e sim com um homem maravilhoso que sempre quis do meu lado ta?
- Ohhhh patinha, qué qué...hihihih te amo minha pitchuka, minha pequenininha, minha baixinha, meu docinho, meu ursinho...
- Rs, tá bom vai, chega desses nomezinhos: Vamos sentar um pouco ali fora e conversar té o sono chegar, vem.
- Vamos sim pitchuka, deixa eu só pegar duas cervejas pra gente.
- Na-na-ni-na-não, cerveja não, pega aquela garrafa de vinho de ontem.
- Aiiiiiiiii, que chatinha viu: “-Cerveja não, cerveja não”.Tsc...