Saturday, September 20, 2008


Nu
No meio de algum lugar, havia alguma coisa. Não era uma pedra no meio do caminho, mas sim uma flor no meio do deserto. Um caminho aberto, sem pedra, sem tropeço, livre para a passagem Flor selvagem que não careceu de terra macia nem nada, simplesmente nasceu ali no meio de onde não há vida, ou quase não há. Não há defesa contra a flor, não há como evitar, apenas o prazer de se dar o que tem sem margem de dúvida, sem medo: Não segure meus pés e minhas mãos, porque vou saltar dentro de um mar profundo que não conheço, pra me sentir vivo. Me deixem em paz, a observar a rosa que chora, mesmo sem chuva, sem água, derrama o que tem sob o sol. Se eu pudesse, essa dor seria minha, tomaria teu fardo e poria sobre minhas costas vermelhas de sol, se pudesse evitar teu sangrar, evitaria e te daria todo o gozo e toda alma que teu corpo de rosa precisasse pra ser feliz por completo.
E nada mais tem muito valor sem tua imagem em meus olhos, sem tuas pétalas vermelhas como sangue, macias como veludo: Meu tempo se esvai, e meu corpo paralisado não obedece à minha vontade: Quero ir, preciso ir, mas quero ficar, preciso ficar.
Um deserto imenso, miragens e vento que transporta as dunas, muda o cenário. Muda minha vida, sou criança indefesa e pequena, diante de um amor sem final, sem bordas. Minha alma seria tua, oh rosa cálida, rosa infinita: Meu corpo nu, meus poros absorvendo teu perfume, toda a chama do meu peito ardendo em noites que parecem nunca amanhecer, quando não te vejo dançando ao sabor da brisa, nascida da areia seca, como um milagre.
Rosa que de longe vi, e sem crer, recebi vida naquele momento, rosa que cura e sopra a angústia pra fora, essa pobre alma te adora. Rosa que cala, e espera ouvir as palavras, rosa que ainda sara os cortes que esconde e ninguém vê.
Te espero, por ser rosa, apenas ser um singular mistério, essa aparição no mais inóspito lugar para uma flor: Eu sigo adorando tua força, nu...