Thursday, September 25, 2008


Mal resolvido, meu Rio

Rio, não sei o que de ti diria se não te conhecesse. Um caso de amor mal resolvido, diagramas escondidos, e eu sem saber direito pra onde ir no meio de tanta gente, de tanta coisa que emite som; Não me decido por me apaixonar ou temer as tuas entranhas de sangue quente. Não sei se visto a camisa dos teus times e grito: - Gol! Ou se corro pra longe de teu olhar sedutor inebriado de vinho tinto. Não sei se bebo a água salgada do teu mar, rolo na tua areia feito criança a brincar e me rendo de amor, me rendo de amar, com os braços pra cima, rendido aos prantos diante de teu rosto mal-dormido com generosas olheiras.
Me dá uma luz porque existe uma questão a ser dirimida: Te vivo, ou te dou minha vida como um louco, um romântico filho entre milhões de outros, a mamar em teus seios belíssimos: Minha terra que alimenta romances, floresce as canções e a rima dos poemas; Esse é teu dilema de sempre e interminável de acariciar minha face com a palma macia de uma das mãos, e com a outra estapear-me sem pudor. Cresci longe, mas sempre perto, com teus céus abertos a chuva caía e lavava a poeira negligente, indiferente dos melhores dias de outrora; me deixa sorrir um riso incontrolável, daqueles que só a esperança pode permitir se dar, me deixa abraçar a tua aurora de frente para o mar, me esquecer que uma bala pode me encontrar, me deixa te cantar com melodia pros quatro ventos e em quatro cantos, suspirar de orgulho, pomposo, sem sustos, sem medos. Ah, que a nostalgia é feito dia cinza que não pode tomar conta, não pode se instalar, porque o hoje me interessa mais; O hoje do meu filho, dos meus tios, dos meus amigos. Tantos abismos te cortam a carne, te separam em duas, em três, em centenas de cidades dentro de uma só, como um nó que a cada ano se embola mais, um emaranhado de paraíso, suor, sangue, morte, nascimentos e mais o resultado de tudo isso: Teu luxo e teu lixo, quero esquecer nem que seja por apenas hoje, apenas nessa manhã.
Teus morros, topografia dos deuses gigantescos que se instalavam em teu solo, banhavam-se em tuas águas e esparramavan-se preguiçosos deitados lado a lado como casais, carícias divinas e angelicais abençoando tua beleza de rainha, nessa terra de que ouso chamar pátria minha, beleza igual não há comparável; Instável e temperamental, Rio que te quero bem e te quero mal. Não espere pouco de mim, mas sim os recantos mais intocáveis da minha alma, as praias desertas do meu cio a cada vez que te vejo nascer devagar, a cada alvorecer.
Do teu pão vou comer, com meus irmãos que também são seus frutos, rir e chorar sobre teus viadutos, túneis, pontes, estradas e prédios. Respirando teu ar carbonizado do meio-dia vou morrer de amor, ou morrer de outra causa qualquer, talvez de medo nas tuas noites; Vou gozar e ser feliz, mas até quando eu não sei. Insone e bêbado de alegria, até que não sinta a dor dos açoites: mesmo que assustado, sempre te amei e sabes que vou continuar te amando, mas até quando... Não sei, enigma indecifrável: Rio.