Tuesday, February 13, 2007




Lama ignorante

Eu ligo a tv, vejo o telejornal e penso: "Esse mundo doente não tem mais remédio..." Não fazia muito tempo que uma família tinha sido queimada viva dentro do próprio carro por conta de dinheiro, uma criança morre arrastada no Rio de Janeiro, de forma bizarra e bestial: Nem nos filmes mais thrash de terror a gente vê coisas desse naipe! Não tenho medo do que não vejo, mas sim do que vejo, do que está ao meu redor, da indiferença que deixa os cidadãos de bem anestesiados quanto ao caos reinante, ou o olhar ameaçador de alguém que passa do seu lado na rua, gratuitamente, arrogante. O que vejo com lamento é uma massa de jovens achando bonito "ser malandro", de dez palavras, nove são gírias, palavrões, muita hostilidade, sarcasmo e nenhum cérebro: A cultura da violência está dentro da gente e a gente nem percebe, achamos normal por que todos são assim, é massificado. Se todo mundo ouve funk que faz apologia á violência e idiotices imorais, vou ouvir também, por que é legal e as pessoas gostam: Por mais que tente não ser tão radical quanto á certas coisas, certos atos que vejo por aí, não consigo me livrar da idéia de que a massa é uma manada de porcos que odeiam água limpa, e se sentem mais ambientados na lama, porcos a sorrir, imundos, cobertos com uma lama fétida quase que impossível de se lavar...
Passam três rapazes em bicicletas, xingando alto na rua para que todos ouçam: Violência! Caras dentro de um carro insulfilmado, ouvindo funk a todo volume, passam bem devagar pela orla, o carona olha com cara de bandido para você que apenas está caminhando para o seu destino tranquilamente: Violência! Alguém escorrega e cai, ou sofre algum constrangimento e todos riem, pois ver alguém se dar mal é quase como um "deleite" para um porco: Violência! Enganar alguém, passar alguém para trás e contar para os colegas depois ao som de gargalhadas debochadas; Violência! Olhar para alguém e mesmo sem conhecer a pessoa e pensar: "- Que idiota, cheio de pose, de marra..." Violência! Somos compostos por uma boa dose de medo, insegurança e parece que vivemos tentando suscitar isso no próximo, amedrontar, e os sentimentos menores e mais pobres que a gente tem dentro, acabam vindo á tona, pois são como erva daninha que sufoca o que de bom a gente tem pra dar: O que você tem para dar?
Ás vezes penso como teria sido bom ter nascido na década de 50, os anos dourados, o Rio antigo: Meu Rio, aonde nasci e que hoje sangra e chora, mesmo cheio de natural beleza.
Por que tenho que ser igual a você? Não, não tenho que ser, não temos que ser medíocres mesmo que o mainstream de comportamento da nossa sociedade queira isso, principalmente pra você que é jovem. Olho ao redor e todos tem muito pouco a dar, por que são pouco por dentro, por que têm medo de serem pessoas legais e educadas: Medo? Sim, medo, é frágil ser bom, ser legal e olhar as pessoas com olhos mais amenos, o risco de se machucar é maior, podem achar que você é bobo ou ingênuo e querer te passar pra trás, "tirar com a sua cara...” É essa mentalidade que vigora. Se ser como sou e pensar como penso é ser careta, eu vou sempre ser careta por que a partir do momento em que me acostumar com a indiferença do povo, a complacência com aquilo que é ruin e degradante, com aquilo que mata, com o ódio, como quem acaricia uma besta selvagem achando que é seu animalzinho de estimação, estarei perdendo meus sonhos, sonhos que por mais que pareçam impossíveis, são o que me mantém vivo e me fazem uma pessoa melhor.
A juventude se mostra apática, facilmente manipulável, rotulável, consumindo porcarias, lavagens, perdendo a valiosa oportunidade de abrirem a cabeça e cortarem o cabresto: Ah Drummond, Ah João Cabral, Ah Vinícius, poetinha, Tom, Os responsáveis pela alegria do mundo, por todo o mundo: Quisera tê-los ainda hoje entre nós, entre nosso caos, e que estivessem no horário nobre, nos programas de domingo, nas rádios...Quisera...Quisera viver um movimento cultural consistente que varresse a cabaça da gente assim como a Beatlemania, ou uma causa nobre para se lutar e engrandecer a alma revestida por uma ideologia: No regime militar ao menos os jovens eram unidos, politizados, fortes. O que vejo ao redor é muita energia desperdiçada, jogada no lixo, sendo que é na juventude que se muda, que se cria, se recria, re inventa novas cores, cores que poderiam ser de paz, de cordialidade, uma cultura da paz, que há algum tempo criaram uma que é muito bonita no papel, mas que ninguém vê...
Eu sou eu, não dou força para aquilo que creio ser estéril ou negativo. Rezo para que a nossa sociedade acorde e tome medidas sérias para mudar sua cabeça, seus valores, suas posturas e de seus filhos também, por que foram jovens que mataram uma criança no Rio de janeiro da forma mais grotesca que já vi nessa minha vida...