Tuesday, February 13, 2007

Há alguns anos atrás, mais precisamente dentro de longas tardes de inverno, éramos quem? Crianças, éramos ônibus para a escola sonolentos a olhar para as ruas dos bairros, ia cortando a cidade o familiar "taboão", que saia do nosso bairro em direção a quase o outro lado da cidade: Nossa escola era nosso dia a dia e nossos amigos eram a família ideal, a família que escolhemos. Os mais novos tinham os mais velhos como ídolos, e adorávamos dizer que éramos seus colegas, que fomos ao estádio domingo ver o jogo na arena, e os tínhamos visto por lá, era bom ver os caras e pensar: "Porra, o cara tem estilo, ou atitude...” A incontinência juvenil, matar aula para jogar carta atrás da torre da caixa d'água da escola, era muito bom, e ao mesmo tempo muito pouco. O mundo tinha mudado de cor e as coisas não eram mais tão leves como na infância, como desejávamos aquelas meninas que eram o sonho de consumo de todos, mas ninguém tinha chance, a noite chamava, mas como aceitar o convite se poucos tinham os almejados e orgulhosos "dezoito anos?” Ah, como queríamos ter dezoito anos, o tempo parecia caminhar mais devagar que uma tartaruga alcoolizada e sem vontade de chegar, mas isso nem era motivo de tanta preocupação: Tínhamos o futebol na cobertura, ora na rua ao lado do prédio do Guto, tínhamos as saídas para a pizzaria, ou as idas no parque, para passar a tarde toda em brinquedos proporcionadores de vertigem e ânsia de vômito, tínhamos as canções, tínhamos o videogame, tínhamos muita energia e uma imensa vontade de viver tudo o que era inédito ou politicamente incorreto até ali, de fazer o que ninguém mandava ser feito. Éramos crianças e mesmo que não se percebesse, aquilo tudo era belo e era único e daria muita saudade quando acabasse. Os amigos, hoje longe, mas nunca esquecidos, amigos de uma vida inteira, me fazem recordar em cores intensas aqueles anos, o bairro, os lugares...A gente nem sabia o que era dor ainda, e as palavras nos faltavam: Só restava sentir e viver, ora reclamando, ora rindo com as loucuras que falávamos.
No rádio a turma de Seattle dava o tom, a trilha sonora por trás daquilo tudo.Muita coisa não se entendia, como se a alma ainda não refletisse o que eles cantavam, por que ninguém tinha se apaixonado, ou sei lá, trabalhado e sentido o peso do mundo nas costas, mas era bom cantar, ter os discos e ir na casa um do outro para gravar em cassete os discos que ainda não fazia parte da coleção.
A 96 rádio rock tocava as bandas do grunge quase que o dia inteiro, e isso tudo ficou em mim, na memória e no que sinto. Eu acho que de alguma forma sempre vou ser aquele moleque que fui, ou que sou.
Guto, magraão, Fábio, Emerson e mais todo mundo que é irmão: Saudade, em breve estaremos juntos! Sooner or later, hehe...