Tuesday, February 24, 2009


Grandes solidões
Duas solidões se encontram, se fitam desconfiadas
Duas solidões que não cabem mais em si
Uma farpa pequenininha que insiste em incomodar a pele
Menos é ser só, de grande ou pequena solidão, ser menor
Duas que se abraçam após longa espera
Seria melhor forma quando se achasse
Por mais espaçosa uma outra solidão almejante
Se abrigassem uma na outra em par
Olhos tristes ao longe
Permita sorrir outros que se achegam
Ser mulher é o mesmo que ser homem
Quando homogêneas ausências se beijam
Tornam-se suportáveis
Subtraem o gelo do mundo que fica pelos cantos
Caminham de mãos dadas para achar renascimento
Que os amantes sejam santos
Que o ter não seja mais o vicio, e sim o alento
Miúdo alento de dois olhos que se perdem em seus mares
Duas solidões se encontram, trilham no escuro até que caem sem fim num espaço pintado de paz
A dor que encanta
Busca redenção, salvação em um universo de dois
Nunca poderiam ser mais
Apenas menos, duas solidões a se perderem no tempo, em momentos
Amor de mais
Duas solidões de menos
Maiores sozinhas
Menores casadas
De tanto só, resta uma estrada de dois, maior...

Thursday, September 25, 2008


Mal resolvido, meu Rio

Rio, não sei o que de ti diria se não te conhecesse. Um caso de amor mal resolvido, diagramas escondidos, e eu sem saber direito pra onde ir no meio de tanta gente, de tanta coisa que emite som; Não me decido por me apaixonar ou temer as tuas entranhas de sangue quente. Não sei se visto a camisa dos teus times e grito: - Gol! Ou se corro pra longe de teu olhar sedutor inebriado de vinho tinto. Não sei se bebo a água salgada do teu mar, rolo na tua areia feito criança a brincar e me rendo de amor, me rendo de amar, com os braços pra cima, rendido aos prantos diante de teu rosto mal-dormido com generosas olheiras.
Me dá uma luz porque existe uma questão a ser dirimida: Te vivo, ou te dou minha vida como um louco, um romântico filho entre milhões de outros, a mamar em teus seios belíssimos: Minha terra que alimenta romances, floresce as canções e a rima dos poemas; Esse é teu dilema de sempre e interminável de acariciar minha face com a palma macia de uma das mãos, e com a outra estapear-me sem pudor. Cresci longe, mas sempre perto, com teus céus abertos a chuva caía e lavava a poeira negligente, indiferente dos melhores dias de outrora; me deixa sorrir um riso incontrolável, daqueles que só a esperança pode permitir se dar, me deixa abraçar a tua aurora de frente para o mar, me esquecer que uma bala pode me encontrar, me deixa te cantar com melodia pros quatro ventos e em quatro cantos, suspirar de orgulho, pomposo, sem sustos, sem medos. Ah, que a nostalgia é feito dia cinza que não pode tomar conta, não pode se instalar, porque o hoje me interessa mais; O hoje do meu filho, dos meus tios, dos meus amigos. Tantos abismos te cortam a carne, te separam em duas, em três, em centenas de cidades dentro de uma só, como um nó que a cada ano se embola mais, um emaranhado de paraíso, suor, sangue, morte, nascimentos e mais o resultado de tudo isso: Teu luxo e teu lixo, quero esquecer nem que seja por apenas hoje, apenas nessa manhã.
Teus morros, topografia dos deuses gigantescos que se instalavam em teu solo, banhavam-se em tuas águas e esparramavan-se preguiçosos deitados lado a lado como casais, carícias divinas e angelicais abençoando tua beleza de rainha, nessa terra de que ouso chamar pátria minha, beleza igual não há comparável; Instável e temperamental, Rio que te quero bem e te quero mal. Não espere pouco de mim, mas sim os recantos mais intocáveis da minha alma, as praias desertas do meu cio a cada vez que te vejo nascer devagar, a cada alvorecer.
Do teu pão vou comer, com meus irmãos que também são seus frutos, rir e chorar sobre teus viadutos, túneis, pontes, estradas e prédios. Respirando teu ar carbonizado do meio-dia vou morrer de amor, ou morrer de outra causa qualquer, talvez de medo nas tuas noites; Vou gozar e ser feliz, mas até quando eu não sei. Insone e bêbado de alegria, até que não sinta a dor dos açoites: mesmo que assustado, sempre te amei e sabes que vou continuar te amando, mas até quando... Não sei, enigma indecifrável: Rio.

Saturday, September 20, 2008


Nu
No meio de algum lugar, havia alguma coisa. Não era uma pedra no meio do caminho, mas sim uma flor no meio do deserto. Um caminho aberto, sem pedra, sem tropeço, livre para a passagem Flor selvagem que não careceu de terra macia nem nada, simplesmente nasceu ali no meio de onde não há vida, ou quase não há. Não há defesa contra a flor, não há como evitar, apenas o prazer de se dar o que tem sem margem de dúvida, sem medo: Não segure meus pés e minhas mãos, porque vou saltar dentro de um mar profundo que não conheço, pra me sentir vivo. Me deixem em paz, a observar a rosa que chora, mesmo sem chuva, sem água, derrama o que tem sob o sol. Se eu pudesse, essa dor seria minha, tomaria teu fardo e poria sobre minhas costas vermelhas de sol, se pudesse evitar teu sangrar, evitaria e te daria todo o gozo e toda alma que teu corpo de rosa precisasse pra ser feliz por completo.
E nada mais tem muito valor sem tua imagem em meus olhos, sem tuas pétalas vermelhas como sangue, macias como veludo: Meu tempo se esvai, e meu corpo paralisado não obedece à minha vontade: Quero ir, preciso ir, mas quero ficar, preciso ficar.
Um deserto imenso, miragens e vento que transporta as dunas, muda o cenário. Muda minha vida, sou criança indefesa e pequena, diante de um amor sem final, sem bordas. Minha alma seria tua, oh rosa cálida, rosa infinita: Meu corpo nu, meus poros absorvendo teu perfume, toda a chama do meu peito ardendo em noites que parecem nunca amanhecer, quando não te vejo dançando ao sabor da brisa, nascida da areia seca, como um milagre.
Rosa que de longe vi, e sem crer, recebi vida naquele momento, rosa que cura e sopra a angústia pra fora, essa pobre alma te adora. Rosa que cala, e espera ouvir as palavras, rosa que ainda sara os cortes que esconde e ninguém vê.
Te espero, por ser rosa, apenas ser um singular mistério, essa aparição no mais inóspito lugar para uma flor: Eu sigo adorando tua força, nu...

Tuesday, June 24, 2008


Amigos que se amam, se abraçam e dizem: “Segura minha mão e caminha ao meu lado...”
Sentem falta da presença, dão risada sozinhos quando lembram de algo divertido que o outro falou. Se sentem ligados, mesmo que separados por alguns kilômetros, indelével se torna a lembrança e o coração se aquece quando em silêncio oram uns pelos outros. Amigos são como irmãos, e querem sempre mais, pois corações verdadeiros não se cansam de bater, crescem ao dar mais, além das expectativas, vão além do previsível!
Nascemos, crescemos e quanto mais aprendemos, mais a vida se revela com suas belezas e suas dores: E por quase que um instinto natural, quando feridos ou decepcionados, fechamos o coração, fechamos o rosto e nos recolhemos em nossa sensação de proteção: Quanto menos sorrir, quanto menos mostrar quem sou, mais seguro vou estar...
Valores invertidos reforçam atos que ferem, atos que blindam o coração, atos que isolam e apagam belas cores que temos dentro. Me lembro de um “hit” pop dos anos 80: “True colors” da Cindy lauper, que diz no refrão:” Mas eu vejo suas cores verdadeiras, brilhando através de você, eu vejo suas cores verdadeiras, e é por isso que eu te amo, então não tenha medo de mostrar suas cores verdadeiras: Cores verdadeiras são lindas como um arco-íris...”
Entendo essas “cores verdadeiras” como o melhor que a gente tem, os melhores sentimentos, as melhores sensações, os melhores atos e os temores...Sim, os medos, a fragilidade nos torna humanos ao invés de máquinas. Quando se consegue enxergar quem somos, essas cores verdadeiras cativam, brilham e são admiradas, contempladas pelos amigos, por quem pára e tira um momento para observar: É o que apaixona um casal, apaixona os amigos, apaixona mães e filhos, pais e filhos.
Na teoria tudo é mais fácil, mas vale a pena tentar se revelar um pouco a quem nos transmite confiança, tentar enxergar o outro com mais tolerância, observar os pontos positivos e características de valor que se destacam.
O coração ferido, os cortes na alma podem esconder do mundo quem você é de fato, ocultar seus sonhos mais juvenis, mais sinceros, mas a opção da alegria, da verdade está com cada pessoa: Vale a pena tentar ser mais humano, acertar sem presunção, errar sem o peso de uma cobrança implacável. É um exercício que se pode começar agora, a partir dos parentes mais próximos, a partir de nós mesmos.

Que Deus nos ajude a transparecer nossa verdade e abrir os braços em um gesto de compreensão e generosidade., principalmente com aqueles que nos respeitam e querem bem. Tente!


Davi de Araújo

Thursday, June 12, 2008


Para sempre seu

Há de chegar um dia em que partir só será em uma constante companhia, um dia em que as pausas não serão forçadas, mas sim espontâneas, de comum acordo. Os finais estariam no passado, e se houvesse um término, seria sim uma conclusão, uma feliz conclusão com sabor de triunfo. Há de chegar um dia em que mesmo com anos e anos nas costas, nos sentiremos como crianças que correm livres, belos animais selvagens ganhando a imensidão: Há de chegar um dia que por tantas vezes duvidamos, mas nunca perdemos a esperança e a certeza, um dia claro, aquecido por uma manhã tranqüila, equilibrado por mãos dadas, quieto como um coração que recebe amor, como quem sente o calor da mão que acaricia o rosto, a mão que enxuga a lágrima.
Eu escolhi acreditar que é possível o bem falar mais alto por dentro, fechar os ouvidos para a voz amarga dos que não têm paz, dos que não acreditam em si próprios, dos que esperam demais sem nada dar. Por dias a dor calou nossa voz e fechou nosso sorriso, companheira de noites sem sono e olhos vermelhos pela manhã: Tantos erros, tentativas em vão, e o maior acerto foi aprender que existe um recomeço, real como o ar que se respira. Quando se escolhe caminhar sozinho, é fácil desacreditar, descalço em uma rua de pedra, uma trilha incerta e íngrime, o corpo pesava a ponto de esgotar minhas forças. O ontem a ser esquecido é soprado por ventos de um breve amanhecer. Eu escolhi acreditar que nunca desistiu de mim, escolhi acreditar que sua vontade me mostrou pessoas, lugares, sorrisos e me deu a certeza de que a vida pode ser mais. Eu escolhi acreditar e nada pode mudar isso agora. Tua lembrança me deu força para continuar, e quando vulnerável, senti-me coberto por asas de cuidado, sempre ao lado, perto como um sussurro. Eu sei que posso estar sem ninguém ao meu redor, que não vou sozinho: Outrora me sentindo isolado, mesmo em meio a uma multidão, quanto mais gente passando do meu lado, rostos que não conhecia, olhares vazios, sem brilho e a mesma solidão de sempre a pulsar, seca como um deserto.
Eu sei que há de chegar um dia em que teu abraço irá incendiar minha alma e derreter todo o gelo, teu colo irá me guardar do inverno e me farei criança novamente em teu seio, porque será meu abrigo. Há de chegar um dia em que não sentirei mais sua falta, nem correrei o risco de cair em ciladas, ou acreditar em mentiras: Terei uma verdade pura e sólida para preencher meus dias, escrever uma nova história. Olhar para trás e apesar das lágrimas que ficaram pelo caminho, ter a certeza de que foi preciso passar pelo vale para aprender a como ser completo. Dizer que sou para sempre seu, ser seu, sempre. Há de chegar um dia em que não mais soltarei sua mão, sempre seu... Sempre.

Wednesday, October 31, 2007

Negação

Não me ame
Não mereço
Não me pague
Não me vendo
Não insista
Não agüento
Não discuta
Não discordo
Não apele
Não suporto
Não desconfie
Não suspeito
Não precise
Não ajudo
Não idealize
Não disfarço
Não me julgue
Incondenável
Não me negue
Inegável
Não doa
Não alivio
Não vicie
Não vicio
Não espere
Não chego
Não gele
Não abrigo
Não me durma
Não anoiteço
Não me desperte
Não acordo
Não vem
Não tem
Não minta
Não acredito
Não se destrua
Não me compadeço
Não necessite
Não ofereço
Não se orgulhe
Não agradeço

Não me ame
Não mereço

Tuesday, October 30, 2007


Combustível

Cheiro de gasolina
Perfume barato
A poeira seca meus olhos e minha garganta
Mas já avisto um bar
Para molhar minha alma com cerveja e whisky
Aquecer meu sangue
Acelerar nas curvas de uma terra-fantasma
Cheia de gente indecente e fácil
Violenta e livre
Esqueci quem eu era
Esqueci as regras
Deixa a sorte dar o tom da balada
Alguma boca me morde na calada
Eu relaxo mas esperto com quem passa
Puxo uma cintura pra perto da minha
Enquanto a noite se agiganta
Hora de açoite e veneno
Morder e assoprar a ferida
Que nunca fecha
Quando as portas do inferno se abrem
Meu prazer é efêmero
Rápido
Ao nascer do dia já não há mais nada
Além de mais estrada
Se perdendo no horizonte de um nunca-chegar
A bota é suja como os pneus
Sujos de histórias de quem resolveu
Rasgar o roteiro
E procurar a alma que um dia perdeu
Já sabendo que nunca vai encontrar
Por mais que ande, que o combustível arda
Que a velocidade alimente
Que o suor molhe e o sol queime

Cheiro de gasolina
Perfume barato
Segura minha mão e não acredite em salvação
Cães de rua, vadios e famintos de incerteza
Dormindo com os esquecidos
Mijando aonde mijam os mendigos
Peito ferido se calou
Para que o ímpeto pudesse guiar
Não acredite em mim, pois não acredito em nada
Você não pode me salvar
Se for contar o tempo passa e a gente pára
Luze mais um cigarro, a fumaça da boca anuncia um trem desgovernado
Prestes a partir
Que segue rumo ao que o destino reserva
Em segredo...

Cheiro de gasolina
Perfume barato
Cerveja, whisky, cigarro
Combustível...